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É possível viver para além disto!

É possível viver para além disto!

Voltar a encontrar o (meu) caminho

23
Jun20

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O desconfinamento começou. Sei que já estamos nesta situação há algumas semanas, mas só agora parei para começar a reflectir no assunto e como me sinto.

A verdade é que o confinamento fez-me (muito) bem. Consegui estar comigo própria, lidar com os meus próprios medos, inseguranças e receios. E, admito, não me importava de ter continuado. Tinha o meu porto seguro. O meu canto. Estava protegida. Tive tempo para as minhas coisas. Tive tempo para mim. E, apesar das saudades da família, não senti (muito) a falta da vida pessoal.

Até que as coisas começaram a abrir. Deram-nos autorização para sair de casa. Deram-nos autorização para nos juntarmos - ainda que com distância social - com outras pessoas. Depois dão-nos autorização para podermos ir aos restaurantes, às praias, aos centros comerciais, desde que com máscaras.

Comecei por resistir. Quando começámos a poder circular livremente, entrei no carro e fui ver a minha família. Foi estranho. Nada de abraços. Nada de beijos. O cuidado de lavar as mãos. O cuidado de não estar muito próximos. Foi estranho e cansativo. E voltei para casa.

Fechei-me mais quinze dias. Saía para ir às compras do que era necessário e resguardava-me. Quando volto a ir ter com a minha família, já podíamos ir a restaurantes. Já podia estar com amigos, ainda que com máscaras. Queria resistir, enquanto os amigos e família me pediam que cedesse.

Cedi e fui. Comecei por um passeio na praia com amigas. E mais tarde um almoço ao fim de três meses numa esplanada de um restaurante. Estava a conseguir. Achava eu que estava a conseguir.

Nessa altura, sou confrontada com uma situação num supermercado que mexeu comigo. Percebo que de máscara será difícil pedir ajuda quando queremos fazê-lo discretamente. E penso se não me deveria resguardar novamente. Se não estava a querer dar um passo maior que a perna. 

Não o fiz.

E aí começou todo um burburinho na minha cabeça. Toda uma gestão de emoções que não quis admitir que estavam acontecer e isso começou a mexer demasiado comigo.

Mantive a postura que estava tudo bem, que aos poucos estava a conseguir retomar a (a)normalidade e comecei a conviver socialmente. A obrigar-me a isso.

E ao obrigar-me a isso não percebia o mal que me estava a fazer. 

Eu precisava de tempo. E não me dei esse tempo. E agora acho que sofro as consequências por ter começado a ceder, por ter começado a desrespeitar o que sentia..

Não me sinto tão bem. Não me sinto tão protegida. Não me sinto tão eu.

E quando consegui assumir isto para mim própria, decidi que devia voltar a procurar ajuda. Aquela ajuda que não tinha precisado na quarentena. 

E lá chegada, disse: "Eu sinto-me bem comigo, o problema é voltar a contactar com os outros, voltar a estar com outras pessoas, voltar a conviver." 

Mal eu sabia o quanto me estava a enganar. 

O problema não são os outros. O problema sou eu própria. O problema é que depois de tanto tempo isolada, sozinha, protegida, quando voltei a conviver, não me soube proteger. Não soube proteger uma parte de mim que, na vida social, precisa de ser protegida. E ignorei-a. E o meu inconsciente, nalgumas situações do dia-a-dia, precisou de me alertar que estava a esquecer uma parte de mim. E isso consumiu-me.

Não está nada de errado. Não regredi. Não desci para o fundo das escadas e não tenho toda uma escada para voltar a subir. 

Tenho apenas de aprender a proteger-me ao pé dos outros. A não deixar uma parte de mim só. Tenho que aprender que eu sou um todo. E que nesse todo, com as duas partes interligadas, eu vou conseguir estar bem comigo, mas acima de tudo estar bem comigo ao pé dos outros. E aí...aí vou voltar a sentir o que sentia quando estava confinada à minha casa. Sozinha e sendo a minha prioridade.

E quando isso acontecer...atingi o topo das escadas. Que posso voltar a descer, mas saberei sempre como voltar a subir, com mais ou menos dificuldades.

Tenho apenas que me integrar num todo. E esse é o meu caminho. Mais do que o desconfinamento. Tenho que voltar a centrar-me no meu caminho. A centrar-me em mim.

A (curta) homenagem.

01
Jun20

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Já vos falei aqui do meu anjo. Daquele anjo que um dia apareceu na minha vida e a transformou por completo.

Podem não acreditar, mas foi no exacto momento em que conheci o meu anjo que percebi que a minha vida nunca mais seria a mesma. 

Houve qualquer coisa naquela pessoa que me cativou. Que me fez ver que para se manter na minha vida, eu teria que olhar mais para dentro de mim. 
Algo mudou em mim. 

Primeiro tive medo. Medo de deixar entrar essa pessoa na minha vida e não ser capaz de a manter. E afastei-me.

Mas a capacidade do meu anjo de chegar até mim, levou a melhor. 
Quis tornar-me uma pessoa melhor, sabendo que havia muita coisa que nunca tinha partilhado com ninguém. Que havia muita dor que estava em mim e que a transformei em medos, inseguranças, receios.

Passaram alguns anos desde que conheci o meu anjo. Como vos partilho aqui, procurei ajuda, encontrei a minha criança interior que andava perdida, comecei a olhar mais para mim e menos para os outros. Muita coisa mudou, menos o meu anjo. 

Apesar de tudo, manteve-se ao meu lado. Sempre. Nesta minha luta interna, deixou-me ser eu. E mostrou-me que é exactamente por ser como sou, que gosta de mim. 
Foi o melhor que me aconteceu. Foi o meu Euromilhões.

Hoje escrevo-vos sobre o meu anjo, porque, nós falamos de tudo. Mas, havia (e, certamente, haverá) coisas que nunca tinha falado com ninguém e que, recentemente, decidi partilhar com o meu anjo. 

Não recebi um olhar de compaixão, de pena. O que recebi foi um silêncio de não saber como tinha sido capaz de lidar com aquilo sem falar.

E foi por isso, ou é por isso, que com essa pessoa sou EU. Sem tirar nem pôr. 

Não há pena ali. Talvez o que haja é o sentimento de não ter aparecido mais cedo. 
Só que eu digo-lhe, muitas vezes (e não sei se suficientes), que apareceu na altura certa. Que apareceu no exacto momento em que precisava de ser salva.

Salva! Foi exactamente isso que este meu anjo me fez. Salvou-me. Salvou-me de cair bem fundo no poço. De ignorar o que sentia e de sobreviver, para começar a viver.
Salvou-me! 


E fê-lo, porque é de uma capacidade extraordinária de ver para além do seu eu, de como fazer o contrário da generalidade das pessoas que "no final do dia, so elas interessam.".

Não é (sempre) altruísta, mas não é egoista. Está lá. Sempre. Quando preciso. Quando não preciso. Com um abraço. Com uma palavra. Com um dar a mão que nunca tinha sentido na vida. 
Com o meu anjo, deixei de sentir que a vida não tinha sentido. Pois fez-me ver que a vida era muito mais que o meu passado. 

Devo-lhe isso. Devo-lhe ter me colocado no caminho certo. De não ter desistido de mim, quando quis fazê-lo. Mas devo-lhe também esta (insuficiente) homenagem. 
É o meu anjo. O meu porto de abrigo. O meu pilar.

É tudo isto e muito mais. E merece isto e muito, muito mais.

Sei que o meu anjo sabe. Mas agora vocês também o sabem.