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É possível viver para além disto!

É possível viver para além disto!

Vender a alma ao diabo

03
Set20

Desaparecida me confesso.

Confesso que depois de ter aparecido por aqui, pensei que me estava a (re) encontrar.

O problema foi que após ter vindo aqui, penso que umas duas semanas depois, numa cerimónia fúnebre familiar a que fui, vejo-me confrontada com situações do passado, que voltaram a fazer-me sentir insegura, desprotegida, abandonada, sem importância, enfim, sem saber muito bem o que devia fazer.

Isto porque, não pela mesma pessoa que me perseguiu no post passado, mas por alguém relacionado com ela, sou empurrada, para que me impedisse a passagem, e num momento de raiva, essa pessoa acaba ainda por me bater na zona do peito, sem que eu nada fizesse para me defender e sem que todas as pessoas que ali estavam se mexessem para me defender. 

Saí do cemitério (sim, isto passou-se num cemitério!) sozinha, a chorar, sem saber o que fazer ou para onde ir, apercebendo-me que atrás de mim, seguia o Padre que tinha estado na cerimónia, sem nunca me perguntar se eu precisava de alguma coisa. Estava completamente sozinha.

Ninguém me perguntou se eu precisava de alguma coisa. Se eu estava bem. Se...

Vagueei durante uns minutos pela cidade, não sabendo para onde me dirigir. Não sabendo quem procurar. Não sabendo nada.

Não sentia raiva. Não estava zangada. Antes sentia uma tristeza e um vazio profundo.

Questionei-me durante aquele período como é que era possível que aquilo tivesse acontecido ao pé de pessoas que eram da minha família e ninguém se tivesse mexido para me ajudar.

Depois lembrei-me que tinha sido sempre assim. Quando era pequena todos sabiam o que se passava em minha casa e nunca fizeram nada para me ajudar, nunca se meteram, nunca se quiseram envolver, porque fariam agora quando já sou adulta? 

E tudo voltou. E tudo se perdeu. 

Para perceberem o que senti, imaginem que estão numa rua movimentada, durante o dia, que naquele sítio há imensas pessoas à vossa volta e que, do nada, alguém vos agarra, vos manda darem as vossas coisas, tudo isto, em minutos, que acreditem que vos parece segundos, em que vocês sabem que há gente a assistir, mas que nada fizeram para vos ajudar. Conseguem sentir? Conseguem perceber a desprotecção de que vos falo?

Não sei se esta é a sociedade que nós temos. Eu sei que é a sociedade em que eu vivo. 

E foi isto que me levou a regredir. E tem sido difícil voltar a levantar. Tem sido difícil sentir que valho mais do que aquilo que sinto que valho. Tem sido difícil reerguer-me...sozinha.

Podia ter ficado por aqui. Faz hoje dois meses. Podia ter ficado por aqui. Mas não ficou.

A partir daí tudo se desmoronou.

Devido ao que se passou tornei-me mais insegura. E talvez mais exigente no precisar. No estar. No sentir. 

Relações familiares que, ainda que complicadas, se iam aguentado, já não se aguentam.

Relações de amizade que, ainda que sempre lá, também se sentem desgastadas com isto.

A vontade de conviver diminuiu.

A vontade de sorrir às vezes é dolorosa.

A saudade é complicada.

Tudo se desmorou. Ou tudo se tornou mais confuso. 

Por causa do que aconteceu fui impedida de ver o meu (novo) amor maior. 

Eu é que sou a vítima, mas o agressor é que se acha com o direito de me continuar a magoar.

Quando decidi dizer "basta", sou informada que ou me voltava a dar com uma certa pessoa, o meu pai, ou não voltava a ver o meu (novo) amor maior.

Pela primeira vez,  em muitos meses, senti raiva.

Como era possível estarem a usar uma criança como arma de arremesso? Como se de um brinquedo se tratasse? Como era possível?

Depois da raiva veio a saudade. A saudade do meu amor maior. A saudade do ver crescer. De saber como ele está. De lhe dizer que gosto dele. De o pegar ao colo. De o fazer rir. Saudade.

Inspirei fundo. E liguei ao meu pai. Se era esse o preço a pagar, era isso que fazia. 

Foi horrível. Naquele momento tinha acabado de vender a alma ao diabo e quando desliguei, só me apetecia voltar atrás no tempo. Mas já não dava. 

E, por outro lado, ia conseguir estar com o meu amor maior. Podia abraçá-lo. Acalmar a saudade. Podia dar-lhe, ainda que por um bocadinho, aquilo que é mais importante que tudo o resto: amor.

Mas não estava convencida e procurei quem me podia acalmar a alma (para além do mar), o meu anjo que me disse: "(...) De resto, segue o teu coração. Dessas decisões não te arrependerás, sendo elas "certas" ou "erradas". Para o coração não há essa distinção.(...)"(SS).

Acalmei. Era verdade. Eu estava a seguir o meu coração. E decidi ir ter com o meu amor maior. E foi tão reconfortante. De coração cheio.

Mas sabia que era efémero, porque eu sabia que não podia continuar a vender a minha alma ao diabo, ainda que isso me custe a saudade. 

No dia a seguir alguém me disse: "Não vendemos a alma ao diabo, quando um bem maior está em causa, o Amor. O diabo está do outro lado." (FL).

É mesmo verdade e o problema é que o diabo não está do outro lado, está mesmo aqui ao lado.

 

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